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DIÁRIO DE CAMPO

Iniciamos o presente trabalho a partir de uma provocação vinda de nossos professores no contexto de uma disciplina de arquitetura e urbanismo. Teríamos que construir um projeto na rua de um dos integrantes do grupo. 

 

No primeiro dia, fizemos uma visita a todas as ruas em que os integrantes moravam. Queriamos decidir onde poderiamos fazer algo que provocasse uma reflexão nas formas de percepção do espaço cotidiano. Fomos à rua Buenos Aires, no Sion, às ruas Trifana e Capelinha, na Serra, e à rua Carijós, no Centro. Eram muitas possibilidades e levamos muito tempo para decidir onde trabalhar, cada rua era muito particular, pensamos no que gostariamos de fazer, onde, como e depois de muita discussão, escolhemos a Capelinha.

 

Pensamos sobre as coisas boas e ruins de trabalhar na rua, e percebemos que ela era muito diferente em cada um dos seus trechos. Decidimos trabalhar o quarteirão que se liga ao Aglomerado da Serra inicialmente porque nos intrigamos com a presença de algumas casas abandonadas, além disso havia um recuo de um edifício que nos parecia uma agressão à rua, acumulava sujeira, dejetos e entulho. Conversando com alguns moradores percebemos que o espaço causava insegurança e incômodo, porém as pessoas não sabiam como reverter a situação.

Primeira semana

 

Decidimos fazer nossa ação seguinte numa terça-feira de manhã pois poderíamos encontrar moradores no momento em que estavam indo ao trabalho. Levamos para lá uma mesa e oferecemos um café da manhã para os transeuntes. Conseguimos conversar com alguns vizinhos e começamos a anotar todas as ideias que eles tinham para aquele espaço, como: horta, parquinho, jardim, cinema na rua, praça,fechar a rua, apresentação de dança, trailer, etc! Dentre as pessoas que conhecemos, foi de especial importância Terezinha, sócia da sociedade dos amigos da serra, que quando soube que alguns moradores queriam construir uma horta ali, nos passou o contato de dona Kaká, uma moradora da rua que ministra em sua casa cursos de horta urbana.

 

Como tinhamos muitas sugestões e queriamos que houvesse maior comunicação entre todos da rua, voltamos no local durante a semana e fizemos um varal para que os vizinhos soubessem o que os outros estavam pensando, e darem sua opinião sobre o assunto. Deixamos um envelope com mais papel e uma caneta para que mais gente pudesse chegar a qualquer hora e deixar sua idéia.

 

 

Segunda e Terceira semanas

 

Entramos em contato com a Kaká, ela se mostrou muito aberta à ideia da horta pública e nos recebeu em sua casa. Ela nos apresentou suas ideias e formas alternativas de plantio para hortas urbanas. Kaká já tinha a vontade de fazer hortas na rua e ficou entusiasmada com a idéia de construir a primeira em sua vizinhança. 

Convidamos as pessoas com cartazes e panfletos, anunciando a data e pedindo doações que precisariamos para construir, como garrafas pet e de produtos de limpeza, terra, mudas e o que mais quisessem trazer.

Fizemos o mutirão e curso de agricultura urbana no domingo, dia 03/11/13, quando conseguimos movimentar bastante gente!

Primeiro fim de semana

 

Pensando em como atuar no espaço residual, a próxima pergunta foi: o que fazer? A idéia inicial seria fazer um ação que chamasse atenção pro local. Compramos tintas e corantes e pensamos em fazer algo pros vizinhos acordarem com uma surpresa, pintar a parede à noite. Mas logo vimos que não seria uma boa idéia, que essa ação poderia ser violenta com a vizinhança, não abrindo nenhum canal de diálogo além de ser uma atitude que não respeitava quem realmente utilizava o espaço, apagando as marcas do pixo.

Resolvemos por fim passar a manhã de domingo limpando o lugar e aproveitar o momento para conversar com os vizinhos sobre o espaço, o diálogo começou a se construir quando precisamos pedir ao prédio ao lado para nos emprestar água. 

Ao terminar o serviço, notamos que o chão ainda estava cinza e que ninguém iria perceber a limpeza, então pensamos em usar nossas tintas: fizemos várias misturas para conseguir várias cores e pintamos o chão.

Enquanto isso, os vizinhos passavam pela gente, perguntavam o que estávamos fazendo e pra que. Explicavamos que moravamos ali perto e que resolvemos fazer alguma coisa para provocar o olhar da vizinhança sobre aquele local. Conhecemos nisso várias pessoas que apoiaram nossa iniciativa e que deram ideias de possibilidades de uso para o lugar. Dentre elas conhecemos uma usuária de crack que até pouco atrás ocupava o espaço, explicamos que não queriamos que eles saíssem dali mas que o espaço poderia ser mais agradável e acolher a todos. A usuária, que prefere ser identificada pelo nome de Neguinha se lembrou que nos conhecemos na visita à rua Trifana, ela apoiou nossa iniciativa, disse que era muito importante aquilo que estavamos fazendo, e que daquele jeito poderiamos mudar vários pontos da Serra.

Conhecemos o Paulo, morador da casa em frente ao espaço vago. Ele demonstrou muito apoio à idéia e se mostrou disponível a nos ajudar! Desde então não perdemos o contato!

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