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ENCONTRO DO SERRÁQUEO AUSENTE

Paulo, morador da Rua Capelinha,um dia me surpreendeu com uma história sobre encontros de moradores que aconteceram na Serra nos anos 90, pouco depois da especulação imobiliária pressionar para a mudança da Lei de Uso e Ocupação, o que possibilitou derrubada de casas e a população do bairro se alterar em um intervalo muito curto de tempo.

 

Ele me levou para dentro de sua casa e mostrou álbuns de fotografia dos eventos. Apontava para as fotos e contava sobre lembranças que vinham a sua cabeça: a jovem paquita do palco que hoje em dia é síndica do edíficio a frente de sua casa; os rappers do Cafezal que se apresentaram durante a noite; a rua vazia no nascer do sol, durante a organização do espaço para a festa;seu grupo de amigos com os quais organizou os dois eventos. Parou nessa foto, eu perguntei por que houveram apenas dois encontros, ele explicou que uma briga fez o grupo se separar.

 

Continuou a passar as imagens, algumas vezes falava aonde mora atualmente alguém que aparecia sorrindo para a câmera. Encontrou ali um rosto que não via faz tempo, um ex-serráqueo que havia se mudado para Nova York, e viajou de volta para a Serra apenas para encontrar os antigos vizinhos.

 

Perguntei sobre a palavra serráqueo. Ele disse que a Serra é para eles mais do que a sua região, um estado de espírito, uma forma de estar no mundo. Ele disse que agora há vários serráqueos espalhados pelo planeta. Ele não comentou sobre fazer um novo encontro, talvez já sejam raros os serráqueos residentes na Serra. Surgem cada vez mais novos moradores que não querem aprender essa outra forma de habitar o mundo, que evitam a vida do bairro ou qualquer interação com a vizinhança.

 

Por fim, Paulo foi para dentro de casa e me trouxe um presente: os convites dos dois encontros de moradores, diagramados pelo arquiteto Evandro Quinaud, ainda morador do bairro. Ele não soube me explicar porque os dois encontros aconteceram no dia 06. Mas disse que escolheram a Rua Corinto porque é central no bairro, plana, com comércios e na época passava nela pouco tráfego de carros.

 

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